quarta-feira, 24 de junho de 2020

A difícil aceitação da crítica

 

No princípio dos  anos oitenta do século passado a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão colocava, na imprensa local,  um anúncio que dizia mais ou menos isto: “Você não tem o direito de criticar a Câmara, tem o dever!”. Julgo que o mentor deste anúncio foi o assessor do presidente de então, Custódio de Oliveira.

Este anúncio era bonito e é próprio da democracia local, mas é, em regra,  uma treta.

A experiência disse-me  que o poder não gosta de ser criticado e, quando surgem críticas, o autor é mal visto e corre o risco de ser prejudicado ou pelo menos marginalizado.

Ao longo destes mais de 40 anos da nossa  democracia local,  tenho criticado, sempre procurando ter respeito pelos visados, aspectos da gestão do nosso concelho, pensando estar a servir o município, mas as críticas são mal vistas e, por tabela,  também  o visado.

Nos anos oitenta e seguintes, criticava várias decisões e omissões da Câmara de então e a atitude desta era fazer de conta que não ouvia. A regra era esta: se respondemos, se damos conversa, damos mais visibilidade à crítica, podemos ficar mal e assim, vendo que nada dizemos, ele acaba por se cansar e cala-se.

De vez em quando, especialmente se a crítica era persistente e mais dura, a reação era um comunicado da Câmara ou dos seus membros mais duro do que a crítica, sentindo-se muito ofendidos e acusando-me frequentemente  de ter dito coisas que não disse e  de colocar em causa a honorabilidade da Câmara ou dos seus membros.

A situação não se modificou quando a Câmara passou para a mão de  outras forças políticas no início do presente século. O comportamento continuou o mesmo. Silêncio perante as críticas e particularmente  a atitude de ignorar o autor das mesmas.

Não é de admirar, pois, que muitas pessoas, muitos famalicenses,  estejam calados. Ganham a vários títulos: não se cansam a escrever ( dá trabalho) , são bem vistos  e estão muito mais à vontade para tratar dos assuntos que lhes dizem respeito e que precisam de decisão favorável  do município.

Estarei a ser excessivo? Julgo que não.

Se quiserem saber as críticas que tenho feito basta procurar em mais de quarenta anos nos seguintes títulos da imprensa local:  Notícias de Famalicão, Estrela da Manhã (ambos já extintos), Vila Nova (já extinto também), Opinião Pública, Povo Famalicense e de novo Opinião Pública.

Vejam os problemas sérios que a nossa terra (cidade, vilas e freguesias) têm e o silencio à volta deles. Abrem-se os jornais impressos ou digitais e estão inundados de elogios à acção da Câmara. Acrescem as fotografias. Impressiona!

 O que acabei de dizer foi a título individual e assumo a correspondente responsabilidade. Mas o que  costumam fazer nesta matéria os partidos da oposição?

                                                                                                  

(Artigo de opinião publicado no Opinião Pública de 24-06-2020)