quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Identidade e Reabilitação do Hotel Garantia de Famalicão

As obras de reabilitação do ex-hotel Garantia estão em curso e louvei-as em texto

anterior (ver jornal Opinião Pública e blog com o meu nome). Entretanto e perante opinião que ouvi de uma pessoa ligada à Arquitectura pedi-lhe que me desse uma perspectiva da sua área sobre essas obras.

Eis o contributo que recebi e que, com pequenas alterações, transcrevo, agradecendo e assumindo toda a responsabilidade :

No edifício do ex-Hotel Garantia existe uma identidade e um conjunto de características inigualáveis que se devem preservar. Caso contrário será apenas mais um edifício comum, que tanto pode estar no cruzamento da Rua de Santo António com a Rua Adriano Pinto Basto em Vila Nova de Famalicão, como pode estar em Mirandela ou noutro sitio qualquer, sem referência e sem história.

Temos pena que não tenha havido essa sensibilidade pela parte do Projetista e do Promotor. Sendo esta uma Área de Reabilitação Urbana(ARU)/Plano de Ação de Regeneração  Urbana(PARU) de Vila Nova de Famalicão deveriam ser cumpridos um mínimo de requisitos previstos na lei, nomeadamente a preservação das fachadas e a manutenção de elementos arquitetónicos e estruturais de valor patrimonial.

Não se percebem estas intervenções na cidade que a vão descaracterizando ao longo dos anos. Para se conseguir um trabalho de excelência, tem que existir maior intervenção de todas as partes, não só por parte do Promotor privado como da Câmara. Um edifício com a relevância que o Hotel Garantia tem, precisava de ser alvo de um estudo mais cuidado.

Por que razão a Câmara, por exemplo, não orientou o Promotor para realizar um concurso de ideias? Sem tirar o mérito ao Senhor Arquiteto que projetou a intervenção, penso que Famalicão deve ter uma análise mais critica e valorizar mais o seu património construído que “reside basicamente em terem acumulado tempo, e não tanto na beleza nem na superioridade técnica ou artística do imóvel em si”, pois acima de tudo “a categoria do património, é o reconhecimento da sua pertença a um momento histórico passado, o sabermo-nos diante de algo que sobreviveu à história e que a testemunha, que se tornou, por isso, memória física, e que surge ante nossos olhos como matéria onde se preserva o espírito de um outro tempo” (Cláudia Henriques – Turismo, Cidade e Cultura: Planeamento e Gestão Sustentável, Lisboa, 2003, p.196)

E esse espirito de outro tempo, assim, desaparece...

(Publicado no Diário do Minho de 3 de Agosto de 2023

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