“Nestas
ocasiões costumamos louvar os que partem, enaltecendo as suas qualidades. Sobre
esse aspecto , o município de Vila Nova de Famalicão, através da sua câmara
municipal, decretou, muito justamente, dois dias de luto municipal e divulgou um texto bem ilustrativo. Merecem também ser lidos
outros textos publicados nos meios de comunicação social e redes sociais.
Permitam-me
que, em brevíssimas palavras, em vez de um elogio fúnebre, diga o que no meu
entender Joaquim da Silva Loureiro gostaria de nos dizer agora.
Diria desde
logo:
Nunca, nunca
desistam de lutar pela Paz no mundo e por uma sociedade livre, justa e solidária como ordena a nossa Constituição
no seu primeiro artigo.
Cuidem do
nosso Planeta que tão graves riscos corre com um crescimento desenfreado e
desigual.
Diria também,
na sua condição de crente, que tenhamos sempre bem presentes a encíclica Pacem in Terris do tão querido Papa João
XXII e as encíclicas Laudato Sì
e Fratelli
Tutti do Papa Francisco, que ele tanto admirava.
Diria
finalmente que tenhamos, crentes, não crentes ou agnósticos, uma qualquer forma
de transcendência que dê sentido à Vida.
Vida que ele deseja que seja longa e a melhor Vida para todos nós!
Obrigado, Dr.
Joaquim da Silva Loureiro! “
Notas:
Estas palavras
que, por incumbência da família, pronunciei, com emoção, no fim da missa de 28
de dezembro de 2023, na Igreja Matriz Velha de Vila Nova de Famalicão, precisam de umas notas que seguem agora:
A vida de Joaquim
Loureiro desde que chegou à Faculdade de
Direito da Universidade de Coimbra, na
segunda metade dos anos 50 do século passado, caracterizou-se pela luta contra a ditadura,
sendo perseguido e preso e tendo vida difícil mesmo quando chegou a Famalicão
na segunda metade dos anos 60 , incompreendido e criticado por muitos por aliar a sua posição política de democrata lutador por uma
sociedade livre, justa e fraterna à sua condição de católico marcado pelo
Concílio Vaticano II e pelo Papa João XXIII.
Proibido de exercer a profissão de professor ( de que
muito gostava) e qualquer outra função
pública por recusar aceitar as proibições que o regime lhe impunha, foi na advocacia que encontrou a possibilidade
de trabalhar e viver. Advocacia que desempenhou
com elevado saber, fruto de muito estudo, tendo chegado a pleitear no
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo.
Ao mesmo tempo
que advogava, exerceu muitas outras actividades de interesse público, não cabendo
neste espaço enumerá-las todas. Lembro apenas a presidência do Famalicense Atlético Clube, cargo de que se
demitiu para não prejudicar aquela agremiação, pois a câmara municipal de então
ameaçava deixar de a apoiar se ele se mantivesse como presidente; a
fundação da secção de Vila Nova de
Famalicão do Partido Socialista, logo em 1974, defendendo sempre o socialismo democrático e
sendo eleito vereador e mais tarde presidente da assembleia municipal, cargo
que exerceu com muita dignidade; a direcção
do jornal Democracia do Norte,
o primeiro fundado em Famalicão depois do 25 de Abril, tendo estado
posteriormente na primeira linha da criação dos jornais Vila
Nova e Opinião Pública; devendo
ser realçada, ainda, a intensa luta pela
defesa do ambiente como sócio e dirigente da Quercus.
Nestes últimos
anos, era grande o seu entusiasmo pelo magistério do Papa Francisco e por duas encíclicas notáveis
uma mais dedicada à nossa casa comum (Laudato
Sì) e outra à fraternidade entre todas as pessoas (Fratelli Tutti). Lê-las ou
reler será uma boa forma de lhe prestar homenagem.
(Publicado
no OP em 3.1-24)
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